tag:blogger.com,1999:blog-24292379371343193632024-03-12T20:14:53.131-03:00Whisper Through a MegaphoneAquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária - Manuel BandeiraHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.comBlogger509125tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-62257903248424428252011-11-22T13:25:00.001-02:002011-11-22T13:27:16.529-02:00mão de pássaro<br />
não quer dizer articulação, pata, cartilagem, garra<br />
e sim minha mão é pássaro<br />
em revoada<br />
pra empoleirar, garrotear, estrangular, crocitar<br />
o sul da voz<br />
<br />
minha mão é pássaro que quando canta pássaro<br />
nem diz pássaro<br />
nem outra coisaHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-57495972519077175852011-10-07T06:02:00.001-03:002011-10-13T01:54:50.261-03:00fragmentos de martina<span class="Apple-style-span" style="background-color: white; font-family: Trebuchet, 'Trebuchet MS', Arial, sans-serif; font-size: 14px;"></span><br />
<div class="post-body entry-content" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 5px; margin-right: 6px; margin-top: 0px;">
noite estourou<br />
como quando uma cabeça estoura<br />
com ares de melancia<br />
por cima dos prédios<br />
escorrendo, pregando no tato<br />
de quem se escora nas paredes<br />
<br />
à noite estourou a cabeça, própria<br />
séria como um alvo<br />
como um bocejo lá embaixo<br />
respingada do miolo mole da noite </div>
<div class="post-body entry-content" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 5px; margin-right: 6px; margin-top: 0px;">
mancha alguns sapatos<br />
de quem, se escorando,<br />
se empertigando,<br />
se esgoelando pra chamar atenção do ônibus que não pára<br />
<br />
e a noite espirrou<br />
fria na espinha feita um grito<br />
de um celular no sexo<br />
pr'afastar o acre d'um beijo amanhecido<br />
espocou</div>HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-61684823758497237832011-09-21T03:00:00.001-03:002011-09-21T03:00:07.179-03:00violão contra a parede<br />
recostado como um mendigo sem ser<br />
dizendo que não é<br />
papelãozinho explicativo meio que de museu<br />
sem chapéu à frente<br />
mas quase pedindo<br />
<br />
a voz cava de tango retumba num ar de ordem<br />
que a gritaria dos carros perde<br />
<br />
não sei, parece de propósito ter<br />
escolhido lugar justo embaixo da placa<br />
que fala dele, que é a de sujeito a guinchoHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-6839996393021177002011-09-21T02:53:00.000-03:002011-09-21T02:53:16.071-03:00uma nota zunir<div>
abelhuda orelha a dentro</div>
<div>
folgar lá dentro</div>
<div>
como um mexicano de filme encostada contra o tímpano</div>
<div>
e contaminar</div>
<div>
e me deixar como o leproso medieval</div>
<div>
obrigado a carregar o címbalo</div>
<div>
para anunciar presença </div>
HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-16470136842460345612011-09-21T02:48:00.001-03:002011-09-21T02:48:17.640-03:00<div style="text-align: left;">
passos trançam em descaso</div>
<div style="text-align: left;">
sinuosos</div>
<div style="text-align: left;">
saem abrem</div>
<div style="text-align: left;">
alas</div>
<div style="text-align: left;">
pra quem passa sem descanso</div>
<div style="text-align: left;">
sim pr'atraso</div>
<div style="text-align: left;">
sorriem de lado</div>
<div style="text-align: left;">
perdem o ônibus</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-69441836651603462602011-07-10T23:24:00.000-03:002011-07-10T23:24:40.389-03:00o autorretrato duplo do schiele<br />
com um cabisbaixo olhando a contragosto,<br />
forçado mesmo para o espectador<br />
cujo chapéu é o felizinho que encara<br />
não tem o ar de imprecisão e de liquidez<br />
que os outros quadros dele<br />
sem precisar de ambientação, o<br />
recado ali é meio nítido<br />
<br />
são sempre os vesgos, um olho no céu<br />
o outro nas pegadas, e sua atenção errática<br />
seus gestos fragmentários<br />
seu ar de quem sabe que não vai pagar as contas<br />
<br />
ali não é a corporalidade, as formas<br />
ele mal usa a via estética pra nos dizer<br />
que as testas franzidas, as duas<br />
a preocupação bifronte com não conseguir guardar silêncio<br />
com ter de significar é inescapável<br />
o espaço em branco é a praga<br />
sendo o inseticida o ruído visual, sonoro, textualHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-9065554219576739022011-07-10T22:02:00.000-03:002011-07-10T22:02:17.560-03:00argumento ornitológico trêsum tigre, no que se aproxima, mais ladino que<br />
feroz não indaga nem coloca diante da presa uma prova de títulos<br />
sem tentar convence<br />
valida a si mesmo e ao que carrega<br />
<br />
das listras à postura, transpira uma auto-confiança<br />
que não precisa berrar<br />
ela existe até na maneira com que a pelagem ondula<br />
quando a mãe tigre corre em caçada<br />
<br />
o tigre existe, não precisa de um espelho<br />
pra dizer isso<br />
<br />
discordo do borges,<br />
o tigre não precisa da faca do onceiro,<br />
discordo com vontade,<br />
é o onceiro que deve o nome de sua profissão<br />
ao objeto:<br />
o algoz deve o nome da profissão à atividade<br />
a vítima acontece,<br />
casualidade.HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-89709055175975156282011-07-10T21:52:00.001-03:002011-07-10T21:52:22.936-03:00<div class="MsoNormal">como se pedissem pra digitar uns caracteres meio borrados,<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">por segurança<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">como se desconfiassem<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">ou mesmo já soubessem de antemão<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">e evitassem<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">como se no frigir dos ovos o veredito<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">dependesse de pro juiz ter rolado um sonho ou não <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">no dia anterior<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">parece que o ventilador é o único que não<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">olha com o queixinho levantado na expectativa<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">chia apenas<o:p></o:p></div>HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-85298746600014794442011-07-10T21:45:00.000-03:002011-07-10T21:45:09.584-03:00esse é um dos contra o ginsberg<div class="MsoNormal">a caneta trêmula emula<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">geracional e irascível contra moinhos de ventos<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">vultos tornados monstruosos pela escuridão<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">empunhando cataventos de energia eólica<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">na estrada, que apesar das quatro mãos, dos pedágios<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">se ilumina só muito de vez enquanto<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">de resto rixa<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">vai e vem, viravolteia <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">dá uma sambadinha<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">com o que vai imaginando que combate<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">e tem uma grande causa na ponta<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">uma inacabada de delinear, mas grande<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">a caneta – pra usar um erro – efabula<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">ensaia exaustiva um discurso recebido e mal existe plateia, <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">quem dirá contrarregra, roteiro<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">fende o silêncio em um antes e um depois<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">e tenta não nos deixar dormir<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">tenta ensurdecer convencendo da constância do seu sussurro<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">e por isso se camuflou na audição das pessoas<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">a caneta arroga tagarela<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">a despeito.<o:p></o:p></div>HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-73652060021210073662011-01-25T17:40:00.000-02:002011-01-25T17:40:13.223-02:00vendo duas bocas, de ocasião<br />
usadas em bom estadoHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-89001912765891343132011-01-25T17:37:00.002-02:002011-01-25T17:37:51.532-02:00pássaros não têm peso<br />
ninguém é poleiro de pardal viva<br />
(pululando a três metros<br />
fugidio, nunca tangível)<br />
presença fantasmática<br />
<br />
nem encosta num morto no chão<br />
(patinhas para cima<br />
bico tornado oblíquo pelo<br />
pescoço truncado)<br />
a textura da pena imagina-se<br />
emprestamos corpo ao que é<br />
intuída sombra e frágil luz<br />
<br />
não é porque pássaros não têm peso<br />
que alçam vôoHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-82889155220384440942010-12-18T16:35:00.000-02:002010-12-18T16:35:11.021-02:00um anão espirra<br />
há um ano<br />
resiste cáustico à condescendência<br />
das risadinhas<br />
de quem passa<br />
e que segundos antes de ele<br />
chamar a atenção<br />
o teria pisado<br />
sem quererHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-445699625259965672010-12-18T16:32:00.001-02:002010-12-18T16:38:47.385-02:00<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">se os olhos de conta </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">de um pássaro de vidro atravessarem minha pele, </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">esbarrarem nos meus </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">ossos e pousarem entre meus dedos </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 19px;">da mão direita </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 19px;">sem estar contagiados pelo tremor, </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">cronometrarei a pedido deles a frequência cardíaca </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">dos espasmos tossidos por acomodações de terra </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 19px;"></span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 19px;">dentro do meu peito</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">transparentes introspectivos</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">tufões intrusivos não convidados,</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">são a pedra rosetta de </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit; line-height: 19px;">hieróglifos privados</span>HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-46297159242908521832010-12-18T16:17:00.001-02:002010-12-18T16:19:45.643-02:00um rato silente, monástico de modos<br />
emborcou um contêiner com estardalhaço<br />
espalhou cheio de lixo sua busca copista<br />
em detrimento de detritos, atrás de comida<br />
e de uma dimensão menos confiável da sua tarefa<br />
roeu o fundo do contêiner raspou tanto<br />
degradou a junção da rodinha de metal<br />
com o contêiner em si<br />
corrompeu o claustro numa missão<br />
solitariamente<br />
a busca que o encapsularia de vez<br />
o contêiner emborcou e mesmo com todas<br />
as cascas de alimento a disposição<br />
não se embriagou na glutonice<br />
nem se resignou a ter perdido o fundo<br />
que raspava, quiçá procurando um alçapão<br />
que o escondesse de vez<br />
<br />
agora presença escancarada<br />
a céu aberto, a vista de todos que perscrutavam<br />
o estrondo do metal raspando o asfalto<br />
indagando tesouros ocultos lixo adentro<br />
envergonhado de fracasso ignorante de outros esconderijos<br />
por perto optou pelo esgoto, cansado de roer<br />
aliás, aposentou-se como impostor<br />
declarado de sua antiga personalidadeHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-22620840210092198302010-12-17T15:30:00.000-02:002010-12-17T15:30:05.428-02:00avental plúmbeo para resguardar<br />
as vozes do ambiente externo daninho<br />
para fazê-las rebotar e voltar à garganta<br />
retroengolindo vômito próprio<br />
<br />
represadas as manifestações<br />
contidas as externalidades<br />
açoreado o rio que liga uma língua à outra<br />
emasculados manequins desfigurados rostos<br />
pra começo de conversaHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-67006311243698806332010-12-17T04:48:00.002-02:002010-12-17T04:59:51.635-02:00carapaça disforme de carne fraturada<br />
e fome, cuja sede dos dedos<br />
escarafuncha outras carapaças e carcaças<br />
que semeadas no solo<br />
começam a brotar<br />
no campo de possibilidades<br />
onde a catação de costas encurvadas<br />
<br />
canibalmente almeja<br />
à forma e ao vigor da presa vestigial<br />
vigia com os olhos recém digeridos<br />
em torno outros corpos<br />
sob intermitência reticente de estrelasHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-3257234270307326442010-12-06T18:37:00.002-02:002010-12-07T00:05:50.324-02:00jazigo de que flores brotam<br />
colonizado por vida qual um livro<br />
cujas páginas amarelaram<br />
<br />
enclausuradas a si mesmas<br />
entregues às traças pioneiras<br />
<br />
jazigo cuja flora intestinal<br />
viceja às custas de rachaduras<br />
na pele da terra que sepultaHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-4752694516950843882010-12-06T18:34:00.000-02:002010-12-06T18:34:12.960-02:00monologuei baixinho com meus botões<br />
alheios a que os tamborilem dedos ávidos<br />
escarafunchando as vozes do meu casaco<br />
usado dos friorentos anteriores<br />
<br />
um fio solto, uma fibra desgarrada ou<br />
tornada a tecer, um volume no bolso incômodo<br />
outros que habitaram este casaco imiscuem<br />
seu dna ao meu a cusparadas<br />
de passado impostoHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-1560216538728293622010-12-06T17:57:00.002-02:002010-12-06T17:57:59.150-02:00<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Te interceptei a tempo, enquanto você apertava o botão do elevador que eu demoraria três minutos e meio, aproveitados pra escrutinar seus olhos em busca de vestígios de nós, para lembrar que estava pifado. Te interceptei é modo de dizer: eu ouvia Vanguart enquanto você convencia a si mesma a dar uma volta, quem sabe se pra pensar ou pra esquecer do tempo que eu acabei de pedir. Quando você me pediu para ir trancar a porta, tentava me estimular a revisar um texto tentando fugir da visão caótica das nossas coisas imiscuídas impregnando a mesa tal e qual o cheiro de verniz e lixo impregnaram o saguão do elevador durante o tempo todo que durou o duelo dos olhares. Neste instante o celular que você esqueceu aqui, usualmente pouco precavida, tocando o alarme que nós combinamos que seria a senha para nos acordar de uma soneca vespertina me diz menos sobre a marcha das coisas numa língua mais incompreensível do que a do amor, o celular me interpela na língua do atropelo, improvisa como eu improvisei mecanismos de achar as razões que me desestrangulassem. Te interceptei na justa encruzilhada em que diversos de mim tratavam de se fazer de surdos aos apelos próprios e aos dos outros. Quando eu me lembrei do mau funcionamento do elevador de serviço, você entrou de volta no apartamento me fazendo achar que tinha capitulado, só foi atrás de papel para se desafogar, assim como eu faço e tento fazer, embora já seja tão inútil quanto previsível – e verdadeiro – dizer que não quero males distribuídos a esmo, nem quaisquer outros males. Um beijo de esquimó nos selou, logo da chegada que deixaria por último rastro seu antes do tempo a faixa estreita dos seus olhos que a janelinha de vidro da porta do elevador antigo permitiria.<o:p></o:p></span></div>HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-36620727681397393062010-11-22T18:13:00.000-02:002010-11-22T18:13:32.961-02:00a chuva correndo fora estrondeia<br />
um reflexo do estrépito dentro de mim<br />
mas suas lágrimas não são as minhas<br />
<br />
o pior dilúvio sou eu às portas<br />
da maior alegria.HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-1717848413628436082010-11-17T00:25:00.000-02:002010-11-17T00:25:16.199-02:00a chuva perdeu as horas<br />
outonalmente, como folhas de livro<br />
desgrampeadas pelo caminho<br />
e permeou tubulação - recrudescida<br />
pelo acúmulo de detritos atravancando<br />
infiltrados nas vidas alheias -<br />
subreticiamente lavando<br />
<br />
a chuva açoita as costas nuas das casas<br />
arranhões visíveis na pintura, comprovam<br />
que a chuva perder a hora e sedimentar<br />
aluviões de apagamentos nos canos<br />
sob a cidade, contaminando os poços<br />
de amnésia,<br />
<br />
depois de perder as horas; anestesiando,<br />
a chuva disseminou uma indolência tardia<br />
ninguém mais trabalhou<br />
no fim da tarde, deitam nas praias do rio<br />
contaminado indolente também<br />
conjecturando o céu e as garças, mais limpos<br />
cuja memória, a chuva erodiu<br />
<br />
a chuva cava buracos no chão, lixivia e<br />
nubla um solo do qual passam a brotar<br />
cigarras contagiantes pigarreando a deixar<br />
cabeças preenchidas por<br />
nuvens apenas, orfãs de corpoHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-46825452598313135882010-11-16T02:14:00.000-02:002010-11-16T02:14:08.712-02:00rufem os tambores, o homem-bala-de-canhão prepara um vôo sobre a platéia<br />
o alvo é a rede de proteção, localizada ao fundo da lona<br />
a propulsão pode aplicar força demais nos pés dele<br />
aí nem o capacete dá conta, e saia da frente quem estiver na frente<br />
a complicação são esses dois aros em chamas, no meio do caminho<br />
e calcular o lançamento pra não acontecer o que aconteceu ao último<br />
homem-bala-de-canhão, que deixou orifício ainda não remendado na lona<br />
quase em cima da arquibancada, passou reto destinado a pousar<br />
uns bons cem metros fora do perímetro a milímetros do cacto que<br />
lacerou o macacão, azul estrelado reaproveitável pelo novo<br />
cuja próxima façanha pretendem que seja planar sobre sem atingir os tetos<br />
de oitenta e três carros compactos, intrepidamente<br />
<br />
longa duração, sem proteção<br />
homem-bala-de-canhão, voa mais alto que um avião.HugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-16894623381193848232010-11-16T00:35:00.000-02:002010-11-16T00:35:03.859-02:00os livros escoltam o sono<br />
encostam qual cachorro<br />
fingindo que as costelas<br />
esfregadas na perna alheia<br />
são sem querer, o dono sabe<br />
mas finge que não, prefere<br />
ver até onde vai a carência<br />
os livros são cachorros mudos<br />
<br />
o frio invadindo pela janela<br />
é tão desejado quanto o golpe<br />
de misericórdia sob a forma de<br />
último suspiro, dos sons da rua calados<br />
o que não é o quarto calado<br />
o lirismo dos nomes calado<br />
<br />
os livros escoltam o sono sem dizer patavina<br />
como se carregando um caixão pelas alças<br />
desenganados fumegantes ainda<br />
mantidos acordados pelo frio que vem da janelaHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-15583996832527833912010-11-16T00:20:00.000-02:002010-11-16T00:20:53.702-02:00artilharia<br />
batalhão<br />
batalha<br />
balestra<br />
besta<br />
bombarda<br />
bombardino<br />
brinquedo<br />
infantaria<br />
(sétima) cavalaria<br />
embarque<br />
fragata<br />
galeão<br />
filibusteiro<br />
<br />
embusteHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2429237937134319363.post-72775816659988008232010-11-12T15:57:00.001-02:002010-11-12T15:59:10.598-02:00um pássaro entrou pela janela aberta<br />
no silêncio pegajoso que só o calor pode propiciar<br />
à procura de um canto para dormir<br />
vasculhou armários e gavetas, os livros e as roupas<br />
e os papéis não deixavam espaço<br />
suas garras firmaram-se na tela retrátil do notebook,<br />
<div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">a qual achou volátil, mais quente ainda</div>sem abrir o bico<br />
tentou a luminária, quente demais<br />
de debaixo da cama o mau hálito de um monstro<br />
o enxotou - tá ocupado, amigo -<br />
quase depenado, desistiu logo do ventilador<br />
o vai e vem da maçaneta o esmagaria dentro<br />
de pouco<br />
o barulho no violão pareceu insuportável<br />
chegou a cogitar a fresta entre a cama e a parede<br />
e preferiu, foi ficando, sem palavras;<br />
não se sabe o que irritou, o calor extra dos lençóis talvez<br />
o fato é que o flagrei outro dia com as patas no meu rosto<br />
tentando habitar minha boca<br />
nidificar na minha vozHugoCremahttp://www.blogger.com/profile/15800203086408727197noreply@blogger.com1