segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ata crepuscular

à porta falsa, labirinto em Creta
refulge o breu pela espada em punho
tilinta inábil em afugentar dez garças
como poleiro jônicas cornijas
de suas asas curiosas verem
do lento farfalhar no elmo atrida
de brancas penas o reflexo abaulado
que rachará, decerto vulnerável
às garras do monstro - cujo leito,
por ósseos mantos recoberto, fixo
no centro ausente da cidade falsa
cumpre esgarçar -: espada direita
indômita, a esquerda tingida rósea
culpa é da cor de carne do novelo
em cuja lã o enlace desespera
dos dedos ávidos por cordas, vítimas
sete crias de Atena, a preferida
quatorze gentes macho e fêmea encarcerados
sandália acerta pedras veemente
infiltrado sob a fresta impostora

calabouço de vontade impostora,
o muro externo esboça recusa
pela impaciência ataviado
prestes amanhecer Teseu aguarda.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Poema subjacente.

a terra vermelha invade pelo ouvido
áspera, retém na memória
pegadas para indicar o local
exato onde devem depositá-lo
para que ouça ribombar um peito
no subsolo

receosa em entregar o guardado
por tanto tempo para este momento,
a terra estremece em contato com
a pele de extinto frêmito
terra virgem, ventre selado por passadas
ruínas, rotas e travessias
nunca d'antes auscultadas

a terra floresce com
o corpo que fenece.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Argumento ornitológico II

O anverso do facho com origem 
na luminária entrecortado por 
um vulto brusco que, 
ao passar 
voando, é refletido pelo espelho.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

circunlóquio

25, 23, no batalhão dos meus gestos
enfileirados lê-se
sou eu aqui, assinalado
de mãos dadas a alguém com
um xis sobre a cabeça
me apontando

no batalhão das minhas palavras
existe uma singela/solene
que me mostra apontando

sendo essa hora a de atirar e de receber o tiro
no peito para ver se os dedos trepidam
de novo,

é bom deixar claro, que na falta
da palavra me perdi no labirinto de estruturas
acordar trabalhar acordar
quase ser atropelado tentando chegar

quase ser

japonesas, negras, brancas, azuis
de boné
as cabeças que flutuam desligadas
de pescoço numa nuvem
enxame de gente enxameando
em torno de mais gente

a fase do videogame me diz
para atirar uma maleta de dinheiro,
as notas espalhadas atraem vilões,
gente da vila em suma
sei que estou te pedindo demais
e sei ao mesmo tempo que ter
paciência em arranjar nossa vida
pode compensar num futuro que
é nosso
e apenas isso

desculpa, sabe?
e obrigado por vir