Te interceptei a tempo, enquanto você apertava o botão do elevador que eu demoraria três minutos e meio, aproveitados pra escrutinar seus olhos em busca de vestígios de nós, para lembrar que estava pifado. Te interceptei é modo de dizer: eu ouvia Vanguart enquanto você convencia a si mesma a dar uma volta, quem sabe se pra pensar ou pra esquecer do tempo que eu acabei de pedir. Quando você me pediu para ir trancar a porta, tentava me estimular a revisar um texto tentando fugir da visão caótica das nossas coisas imiscuídas impregnando a mesa tal e qual o cheiro de verniz e lixo impregnaram o saguão do elevador durante o tempo todo que durou o duelo dos olhares. Neste instante o celular que você esqueceu aqui, usualmente pouco precavida, tocando o alarme que nós combinamos que seria a senha para nos acordar de uma soneca vespertina me diz menos sobre a marcha das coisas numa língua mais incompreensível do que a do amor, o celular me interpela na língua do atropelo, improvisa como eu improvisei mecanismos de achar as razões que me desestrangulassem. Te interceptei na justa encruzilhada em que diversos de mim tratavam de se fazer de surdos aos apelos próprios e aos dos outros. Quando eu me lembrei do mau funcionamento do elevador de serviço, você entrou de volta no apartamento me fazendo achar que tinha capitulado, só foi atrás de papel para se desafogar, assim como eu faço e tento fazer, embora já seja tão inútil quanto previsível – e verdadeiro – dizer que não quero males distribuídos a esmo, nem quaisquer outros males. Um beijo de esquimó nos selou, logo da chegada que deixaria por último rastro seu antes do tempo a faixa estreita dos seus olhos que a janelinha de vidro da porta do elevador antigo permitiria.
Um depoimento – Pedro Freire sobre Malu Rocha (aqui). Um filme – Saturday
Night, Jason Reitman. Outro – Jurado #2, Clint Eastwood. Um documentário
com ques...
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