sexta-feira, 12 de novembro de 2010

um pássaro entrou pela janela aberta
no silêncio pegajoso que só o calor pode propiciar
à procura de um canto para dormir
vasculhou armários e gavetas, os livros e as roupas
e os papéis não deixavam espaço
suas garras firmaram-se na tela retrátil do notebook,
a qual achou volátil, mais quente ainda
sem abrir o bico
tentou a luminária, quente demais
de debaixo da cama o mau hálito de um monstro
o enxotou - tá ocupado, amigo -
quase depenado, desistiu logo do ventilador
o vai e vem da maçaneta o esmagaria dentro
de pouco
o barulho no violão pareceu insuportável
chegou a cogitar a fresta entre a cama e a parede
e preferiu, foi ficando, sem palavras;
não se sabe o que irritou, o calor extra dos lençóis talvez
o fato é que o flagrei outro dia com as patas no meu rosto
tentando habitar minha boca
nidificar na minha voz

Um comentário:

Lucas Galvão disse...

O silêncio de Duchamp é mais incompreendido que superestimado. Duchamp fala pelos vazios, como numa anti-linguagem artística...

O nada é só o disfarce do ser perante o fenômeno, é o modo dele se manifestar de modo esclarecedor.