o meu último dia aqui foi o de céu mais amplo
tão amplo que derrubava uma névoa fina
quase antiga sobre as coisas, que eu enxergava filtradas
poeirentas de secura por entre as quais
eu me movimentei como num pântano,
pé prendendo em galhos enlameados
as coisas me agarravam pelo pé durante um lapso
antes de me encaminhar rumo a mim mesmo lá no outro espelho
, que são seus olhos,
me arranhavam ao me desvencilhar
o céu de duas cores abriu a mão em um aceno
o meu último dia aqui foi de objetos mais
ao alcance dos dedos, que estavam curiosos
em deixar suas digitais no que não mais pertenceria ao toque
de antigamente
e souberam farejando a secura que era hora de ir indo
ir indo tirando o pé da lama, movediça:
respingando como as nuvens que alguém torceu com tanta
força até desaparecerem, deixando o céu limpinho
que aí sobrevindo se meteu
todo gripado trovejou no seco pra se despedir de mim
Não sei qual é o futuro da leitura na era da IA. Talvez um bom palpite a
respeito comece, como faz Joshua Rothman num artigo publicado em junho na
The New ...
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