Se a superfície do concreto irromper em flores,
que serão dedos a engatinhar pela cidade, novas
de onde antes eu não via algo além de áspero
desdivulgadas flores de rostos outros desabrochando
dos corpos que a cidade enterrou sob ela mesma
se os escapamentos dos automóveis espirrarem pássaros
(rasante alergia causada por pólen novo)
que nidifiquem nos pilares dos palácios do governo
por dentro
mobília antiga enxergada por janelas que acabaram de trocar
é porque sim
porque durante um engarrafamento às seis horas da tarde
ocorreu a alguém subir ao capô de um carro
gritando sobre fim dos tempos à luz do sol se pondo
quando um caminhão atropelou a pessoa tombada no asfalto
e o sangue vertido se infiltrou asfalto adentro, regando
as sementes soterradas nas entranhas da civilização,
plantadas nos telhados de uma outra civilização: que a atual
soterrou. O sangue do atropelado fez as flores, rasgando
a cidade por dentro, irromper.
Uma performance – Doechii no Tiny Desk Concert (aqui). Um filme simpático –
Daaaaaali!, Quentin Dupieux. Um filme sádico – o primeiro Speak no Evil,
Christ...
Um comentário:
Nós nossos as lápides de quem um dia fomos.
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