segunda-feira, 7 de junho de 2010

a tarde caiu num frio
invadiu os campos com seus espectros
de cores mortas

melhor que congelado
o sol despencar em tiras como grades
aprisionando os membros que deixam
cair pelo caminho

na frente os velhos e crianças
as mulheres chorando neurastênicas
gente que a guerra fez tremer
que acham orgulho em andar maltrapilhos
pedindo

os combatentes, as baixas
os que realmente foram mutilados
na retaguarda
de carregar últimos olhares consigo

um exército perdido em manobras de recuar
é o declive daquela colina
os presságios escondidos em nuvens
o labirinto de trincheiras mal-traçadas

marcham a um país que pertence
a memórias cujas ruínas
não são o mapa do que perderam

um sol e uma lua
bosques que espreitam
cidades da terra arrasada
suspiram por baixo de um lençol de neve
que não desvendem os pulsos

marcham eles, que mutilados de gestos
e de língua,
perderam quaisquer línguas de sinais
e sinais na pele indicam uma direção
de volta ao campo de batalha

e correm
e esperneiam
e berros mais altos que bombas

a marcha dos que perderam alguma
coisa se arrasta serpenteando
a estrada suja

pisando merda, comendo merda
entre os corpos que tiveram
a sorte de não sobreviver

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