a tarde caiu num frio
invadiu os campos com seus espectros
de cores mortas
melhor que congelado
o sol despencar em tiras como grades
aprisionando os membros que deixam
cair pelo caminho
na frente os velhos e crianças
as mulheres chorando neurastênicas
gente que a guerra fez tremer
que acham orgulho em andar maltrapilhos
pedindo
os combatentes, as baixas
os que realmente foram mutilados
na retaguarda
de carregar últimos olhares consigo
um exército perdido em manobras de recuar
é o declive daquela colina
os presságios escondidos em nuvens
o labirinto de trincheiras mal-traçadas
marcham a um país que pertence
a memórias cujas ruínas
não são o mapa do que perderam
um sol e uma lua
bosques que espreitam
cidades da terra arrasada
suspiram por baixo de um lençol de neve
que não desvendem os pulsos
marcham eles, que mutilados de gestos
e de língua,
perderam quaisquer línguas de sinais
e sinais na pele indicam uma direção
de volta ao campo de batalha
e correm
e esperneiam
e berros mais altos que bombas
a marcha dos que perderam alguma
coisa se arrasta serpenteando
a estrada suja
pisando merda, comendo merda
entre os corpos que tiveram
a sorte de não sobreviver
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
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