nem que calassem as pedras
e as caravelas ensurdecessem
à paisagem que você vê da soleira
de madeira gasta da sua porta
em parati faltariam palavras
o calçamento da rua sussurra
sob seus pés, encosta o ouvido no chão
atento pro coral de vozes das pedras
nem que calassem o vendedor
de doces e o piano da donzela
(n)o fim da rua fosse demolido
só passe em silêncio, a hora do por do sol
na baía guarda histórias
atrás da montanha
sim, a lâmpada a gás, inconfidente
o mascate enuncia um discurso
no púlpito do teu peito atônito
não esquece que de quarenta em quarenta minutos
é a vez do rio ser a prosódia da cidade
a torrente de gestos invade os habitantes
o contato frio das pedras encharcadas
recém úmidas da língua do rio
cultiva musgos entre os tijolinhos
da cidade que estreamos
porque a secura do concreto precisa de um rio
colonial e muito antigo, com vista pro mar
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
2 comentários:
Sinais dos tempos...
"as pedras clamarão", diz a bíblia.
Hmmm.. acho que esse é daqueles que fico assimilando por horas.
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