domingo, 30 de agosto de 2009

Mavórcio ímpeto

Vi marte do tamanho da lua
Mancha de sangue na pele negra do céu
Sem estrelas, sangue bélico
Sem lua, a orbe enorme prevalece
Como uma chaga antiquíssima e
agora a descubro inflingida a mim
Ferida antiga em pele nova e sedenta
Grande e mais vistosa
Que os algodões nuvens que a combatem
e incessantes falham e sabem
Ao vê-la, em tudo semelhante a
um deus, pacificamente
Desvanecer

sábado, 29 de agosto de 2009

Penedos enovelados

Joga Ariadne fios para o infinito
Para caso me perca em suas voltas tristes
Se do sábio o ouvistes a isto consinto
Confutar espetáculo a que resistes

Tece o invisível caminho, não o recorta
E afasta a lembrança das asas de cera
O fugir do labirinto o seu preço cobra
Jamais, porém, engana à que amada espera

De sete em sete esperando à porta sim sabem
Já não tornarão ao leito como eu torno
O solitário mal pode esperar que marchem

Se abate sobre a fila, a ele rasgo
Com o gládio de sob a pedra ele imolo
Em hecatombe a tua linha e a teu traço.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Conluio postal

Com a janela me deparo
Aberta
[Cuja rua consiste
]Com [em]
O vento: sua,
Crua voz roufenha
Jaz nua enclausurado
Dois tapumes o restringem à
Lua

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Monoadesivo

Monoadesivo como se por velcros
Estivessem os símios colados
Uns aos outros e às latas de tinta

Ainda que tentem libertar-se
Agrilhoados por plásticos falham
As pontas dos dedos em rompê-los

O primeiro macaquinho tomba
Levanta verde e os outros riem
Do cilindro pregado às costas
e da tinta derramada

O que a ele está colado também ri
E aquele por mais forte o levanta e
O atira à poça porquer quer

É mais velho e mais pode
O outro resignado aos outros lança bolinhas
Que faz com a mão e aos outros pinta

Debalde o previne o solene idoso
Ignorado vira-lhes as costas
Leva tinta azul na nuca inda límpida

Macaquinhos com sarampo
Em grupo se divertem
O ancião indignado

Grasnai

Este céu é a expressão rosa dos outros
Diferente dos dedos de Aurora
Janela da casa alheia num lampejo
Estrondosa fecha-se
Inculcada consigo mesma

Rosa malhado de tons de trovões
Um ruído colorido que deslumbra
Lâmpago grasnido
Porta de um dono
Que abre e acende a luz
Porque sim
Porque quer ver-nos

sábado, 22 de agosto de 2009

O velho diálogo de Adão e Eva

Nuvem escura, ingrata e negra
Que o meu coração cegar procura
Quando à razão mesma nega ajuda
A um turvo lamuriar me entrega

Tempestade afoga-me a tempo
De não vislumbrar possível saída
Querer terminar viagem perdida
Fez desviar-me do caminho reto

Vagas e naus tributos prestam
Àquela que rege seus movimentos
Não sabendo dos que ali perecem

Porque cause indócil outros tormentos
Prece de marujo lhe endereço
Lhe morra nos braços pelo intento

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Cujas asas pervadem

Um pássaro entra pela fresta no teto
E pousa na luminária

Azul com laivos negros paira
Imóvel em seu trajeto

Onde terá o ninho?
Saberá daqueles cuja marcha:

Percurso abjeto,
que,
Por ignorar, o comparam?

A quem os rege e exara
Cuco, pássaro-objeto

Gaiolas por asas
Engrenagens decerto

Com seu arrulho discreto,
Dois ponteiros por patas

Adeja pontual, corriqueiro e correto
Pássaro-máquina separa

Encarcerado, prende a grilhões

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O dia de trabalho

Por cambalear sozinho na rua engrolando uma velha canção, fizera-se notar entre seus pares. Não era um hábito aquilo que lhe valera a pecha de de bêbado da cidade. A verdade é que quando ficava neste estado ele aquietava e não reconhecia aos outros ou a si mesmo e sequer sentia a menor vontade de fazer o que fizera.
Com a morte de Seu Antônio o posto vagou e isto alvoroçava o pequeno grupo de discretas senhoras responsáveis por zelar pelos bons costumes naquela cidade. Espicaçava-lhes a vontade esse pequeno terremoto capaz de abalar as estruturas de uma sociedade tão solidamente fundada em valores antiquíssimos. Queriam ocupá-lo de preferência com alguém novo, pois o acúmulo de funções era condenável ainda que não impossível dadas as circunstâncias.
À razão as vezes seguia-se um impulso, desde a morte da mulher parara de beber e dera para ter vontades que não eram manias, uma vez satisfeitas não precisavam ser repetidas e mesmo se envergonhava de tê-las realizado. Comera já salame com doce de leite, xingara o motorista do prefeito depois de fechá-lo no trânsito, queimara os livros da falecida - que eram bem mais que os seus- vomitara acintosamente na fonte da praça principal da cidade em frente à igreja matriz.
A extinção do cargo de arruaceiro levou a uma agregação destas funções pela carreira de ébrio, o que terminou por dar notoriedade aum cargo cujo prestígio antes se restringia a certa fama junto à ralé e aos donos de bares. Era premente preenchê-lo sob pena de desregulagem de nossa máquina social por falta de peças. Ficar muito tempo sem que as pessoas exatas cumprissem seu papel exato era muito prejudicial à conservação de nossos bons costumes.
Por "ignorar os parâmetros mínimos de inserção numa comunidade progressista e ordeira"- isso constara da ocorrência - fora escorraçado de cidadezinha e tivera de achar uma outra mais individualista, acolhedora e compreensiva do luto de um viúvo e encontrara esta de agora, seu único problema era este cargo vago. E disso ele não sabia.
Cambalear e engrolar passaram a ser os únicos pré-requisitos para a por todos almejada ascensão social. O desespero das senhoras frente a pessoas tão pacatas, trabalhadoras e avessas aos vícios era tal que passaram a prescindir da investigação prévia em busca de antecedentes de alcoolismo na família. Com a abolição desta exigência genealogia qualquer vira-lata manco que ganisse seria admitido pela comissão. Graças a deus não foi preciso recorrer a estes extremos.
Cedera e este fora o erro que lhe granjearia reconhecimento público. Recém instalado numa casa ampla mas um pouco decadente situada um pouco longe do centro cuja mobília comprara espremendo o último trocado do acerto de contas do emprego na cidadezinha anterior, recostara-se na poltrona com um livro de poesia - Ungaretti - buscando unicamente um pouco de descanso depois do extenuante dia de mudanças.
Sentindo fome veio-lhe à superfície o lampejo que faria a felicidade de nossas senhorinhas.
- Fome, vou comprar uma pizza e refrigerante, andando mesmo para aproveitar e conhecer a cidade, essa música não me sai da cabeça se eu a cantar alto será que eu consigo me livrar dela?, merda, quase caí porque será que alguém deixa isso no meio da rua?, chutei o galho um pouco forte, mas também não o tinha visto essa rua é mal-iluminada, her mind is tiffany twisted she got the mercedes-benz, she got a lot pretty pretty boys that she calls friends.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Bula

A Lúcia H.,
Cuja reação prevejo

Ela tinha olhos negros
Não mereciam uma metáfora
Parecia desconfiada
Da vida, do mundo, dos poetas chulos
Com seus substantivos abstratos

Ouvia música
Minha vontade era, sabe?
Entrar lá
Sentar a seu lado e dizer
Entrei neste ônibus por sua causa
Seu sorriso me mostraria que
Eu interpus um clichê e isso dificulta tudo

Ela tinha cabelo despenteado
[Também negro]
O que mostrava seu provável desdém
Por poetas chulos e verbos
No futuro do pretérito

Funcionaria melhor o modo subjuntivo?
Se eu entrasse fosse direto
Ao ponto de não retorno,
Ela risse do clichê e retomássemos,

O brilho oblíquo naquele rosto fugidio
Que merecia uma metáfora
Era um indício de tédio,
Tácita disposição contra poetas dúbios
Se fosse, ignoraria?
O tudo, o nada, o sempre, o vazio,
o mundo, a vida, o poeta,

Dez patas, uma cabeça e um rim

A verdade do poeta é bem outra
Preclara e anônima
Arredia
Confinada num armário
Se dilui por entre as pessoas
Escorre e não é detectada

Cumpre desencrustrar
espremer
Abatê-la e olhar através
De seus olhos de vidro
Por entre as reentrâncias

Tanto do orifício quanto
Do promontório
Às custas da multidão não sabendo

Memorandum

Subtraio é a luz
Do trovão
Passam tão rápidos e inopinados
Que deixam cair alguma letra

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Metamorfema

Heliogábalo antecipa
Disputa cetro
porque presunçoso

Calígula ignora
Doma fragmentos
quando fora de si

Amílcar grassa
Despoja traços
onde escondidos

Horácio acoberta
Escreve haicais
como anasalados

Ulisses leciona
Esgarça fonemas
sobre ninguém

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ao mesmo assumpto

- Me faz um desconto especial para cliente assíduo?
- Não acredito que você se diz poeta sem saber o que é um troqueu
- Se não me der o desconto, o número de clientes cairá pela metade
- Entre outras coisas é a base rítmica da letra do hino finlandês
- É uma praga que eu estou rogando: os lucros vão despencar e eles vêm encima de você
- Você sabe o que é finlandization?
- Você tenta me enrolar, mas no fundo eu sei que você quer me dar um desconto
- Vai pensando assim que você não consegue nada aqui, coração
- Antes do Pynchon entrar em reclusão, a gente se encontrava para beber gim perto da enseada
- Desconto para os velhos amigos só pode alavancar o negócio
- E o Ferlinghetti passava planando por cima de nós com uma faixa dizendo Pol Pot vive em nosso corações e mentes
- Nunca me considerei sua amiga, infeliz
- Você está em franca decadência mesmo
- Do ultraleve despejava gatos e iguanas e todo mundo achava isso normal
- Não adianta insistir, mesmo porque você anda me devendo desde quarta passada
- E os dois caiam em pé na nossa frente, bem pertinho de nós
- Você engordou desde a última vez, meu bem
- A culpa é da guerra e do desperdício de dinheiro com exércitos e gases
- A culpa é sua, amoreco
- Não adianta, não vai me convencer de novo
- Pynchon já estava um pouco bêbado quando um gato rastejou próximo demais de nós tentando roubar um gole de gim
- Tudo bem eu pago o da semana passada
- E foi acertado com uma garrafa na cabeça
- Seu crédito continuará suspenso até você fazer isso
- Se você fizer essa fiado para mim, quando eu quitar a dívida eu te dou um bônus
- Depois disso a gente foi de Kombi até a ponte onde a gente estava acampado
- Nada feito, até pagar você não consegue nada aqui, meu bem
- Os policias que vieram atender ao chamado de cidadãos concienciosos
- Pensa sobre o assunto, o bônus fica todinho com você, sem repasses
- Não quero ouvir o que você tem a dizer, se você pagar a gente pode até ficar só ouvindo
- Me convenceu, eu pago
- Pela demora a sua dívida aumentou
- Eu pago tudo
- Acabaram dando um tapa
- Eu aumentei o preço também para cobrir alguns calotes antigos
- Qualquer condição, eu aceito
- Não se envergonha disso? e ainda se diz poeta
- Cala a boca e anda logo
- Me diz uma palavra que rima com lâmpada
- Eu já estou pagando por isso?
- O que é pareidolia?
- ,
- ;
- !
-“ ”
-.

domingo, 9 de agosto de 2009

Charleston com agogôs e marimbas

Houve um saxofone tocando naquela noite, disso eu lembro nitidamente, achei que era um tipo de augúrio, o que de alguma forma me fez lembrar da história na qual os romanos liam o futuro nas vísceras de animais sacrificados para este justo fim, algumas vezes águias.
No final nem era um augúrio e mesmo se fosse não faria diferença, pois ocorreu nada ou quase nesta noite que mesmo assim foi fatídica – de um jeito ou de outro eu sempre acabo voltando à história da águia dos romanos- ela fica lá espreitando as brechas do meu subconsciente, até enquanto eu como um churrasco grego às duas da manhã me fingindo de paulistano.
Era um standard do jazz que sem dúvida brotava das entranhas da terra; estando eu na W5, cercado de escolas de idiomas e faculdades, lugar sem casas, restaurantes ou bares, no qual via de regra vigorava um silêncio catacúmbico, não me faltaram indícios de que a tal música viesse do parque da cidade.
Desmascarei rapidamente essa hipótese, o som reboava ao redor de mim. Talvez eu estivesse sendo vítima de um ritual de uma seita secreta, se é que existe seita a descoberto e se é que as que assim existem são seitas mesmo, de saxofonistas cujo Barão Samedi fosse Parker e o diabo Benny Goodman ou Kenny G. Até porque eu sabia que na parte do parque mais próximo de onde eu estava não havia bares e muito menos um onde tocasse Alabama.
Conheci um trompetista - Westony, o nome – que transpunha solos famosos do Parker por diversão, só porque a surdina fazia o flugel parecer um sax alto, tudo isso só para demonstrar desprezo por Gillespie e seus asseclas dissensores.
Não era Alabama a emanação do sax/flugel com surdina, era uma daquelas que todo mundo conhece e não sabe de onde veio, eu podia assoviá-la se eu soubesse. Não era aquela típica baboseira easy listening sem substância que poderia já ter sido regravada mil vezes e tocar na antena 1. Era uma música muito boa, célebre desconhecida: alternava-se uma execução primorosa do tema, cuja melodia evocava uma raquetada, amenizada por um tipo de espuma, saindo de um flugelhorn, com os solos mais mirabolantes.
Sempre existiu por aí a história de que o Vivaldi escreveu as quatro estações para provocar sensações extra-auditivas no ouvinte. Eu não acreditava muito nessa possibilidade até o pedaço dourado de metal retorcido com botões e palheta me fazer lembrar de novo dessa história que paira no ar esperando por confirmação.
Li nas vísceras do animal, ou da soja, ou do trigo que os açougueiros gregos sacrificaram justamente para minha leitura, que aquele saxofone era metafísico e fui para casa dormir.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

In praise of Brodie (concurso)

O concurso literário deste mês da revista Piauí pedia que os participantes encaixassem uma frase do Lima Barreto, Mudemos o uniforme, e já!, em um texto de nossa lavra. Pena que o regulamento preveja que os textos enviados só possam ter até 3160 caracteres, tive que mandar uma versão editada que ficou com 3159 caracteres. A versão que coloco aqui é a integral.



In Praise of Brodie

De minha humilde posição de algoz do reino, lacaio reles desta excelsa corte, vassalo e arauto do mais digno de solicitude, que com sua elevada bondade guia todos e cada um de seus súditos na direção da concórdia, Eu, Puntiforme filho de Puntiforme, algoz deste reino e cidadão cioso do bem estar dos que nele residem, venho por meio desta despretensiosa ainda que indignada missiva, reportar a quem sobre isso competir deliberar, mirando sempre a mais alta e piedosa instância fatos que vêm de forma pertinaz pertubando a paz e a ordem públicas que tanto almejamos alcançar e manter em nossa progressista corte.
É notória e bem quista de certas instâncias de nossa administração o estabelecimento de certas inovadoras práticas comerciais em nossos territórios por alguns de nossos de a pouco célebres e nem sempre ociosos concidadãos, indivíduos espirituosos sem dúvida que aproveitam uma brechazinha qualquer em sua jornada para ludibriar até o mais atento dos sentinelas e vender produtos por eles cultivados e que antes eram destinados ao fornecimento para a mesa régia e suas dependências. Em testemunho confidencial cujo conteúdo não temo desvelar nesta carta, graças à convicção de que tudo o que aqui relato é para o bem de nossa comunidade, Cuneiforme filho de Cuneiforme, 27, escriba, afirmou ter visto mais de uma vez de sua janela na torre da ala da biblioteca grande aglomeração destes elementos que ao se dedicarem a amealhar fortuna e prestígio próprios se furtam à obrigação para a qual foram concebidos, negligenciando o abastecimento da corte em prol de atividades escusas. O que mais impressionou a nosso diligente conciencioso escriba foi o líder deste bando. Não sei se filho deste reino ou estrangeiro, este elemento a pior espécie vem a minar as bases nas quais se fundam a soberania deste território, ameçando-nos e nos inflingindo uma diferença que não podemos tolerar, pois ao fazê-lo colocamos em xeque toda a altivez e a tradição deste povo que delas é tão amigo. Não contemplado por Deus em sua criação este ser, que mal ouso chamar pessoa, não muda de forma.
Humildemente rogo e advogo buscando como sempre ir ao encontro dos interesses de nossa Infalibilíssima Majestade os quais são por conseguinte os deste reino e de sua população. Mostra-se cada vez mais premente a tomada de medida drástica que extirpe pela raiz um mal que, caso se alastre, pode acarretara extinção das tradições pelas quais se guia nosso povo. Insto portanto, as instância administrativas competentes a coibirem a expansão de uma classe de sujeitos antipatrióticos dedicados ao ócio e a si mesmos, cujo aberrante líder é afronta nossos costumes e visa aniquilar nosso modo de vida.

Zelando sempre por que reine a paz e a harmonia entre seus súditos, Vossa Altíssima Majestade, O Rei, filho d’O Rei, determinamos que para a manutenção da ordem pública, bem como preservação da moral e dos bons costumes vigentes neste Reino e por motivo de descumprimento dos ditames régios no que tange a matéria fisiólogica, moral e de interesses:
1. Mudemos o uniforme, e já! O submeteremos a tratamento custeado pelos próprios dividendos de sua atividade ilícita, tendo por objetivo integrá-lo a nossa sociedade de forma pacífica facultando-lhe a a ele vedada capacidade de metamorfosear-se como lhe aprouver.
2. Debelemos qualquer movimento pertubador da ordem em nosso território, evitando comoções intestinas desnecessárias fortacelecendo a soberania e o reinado deste que é o mais pacífico dos povos.
3. Revoguemos todas as disposições em contrário.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Descaminhos áulicos

Apanho-a segundos antes
De que espatife no chão, antes que alguem veja
Que eu deixei cair, seu trajeto
Abtruso abre um túnel no ar
É vedada a vista de seu percurso

Vejo-a rolando em direção à borda da mesa
E a veria no chão em mil pedaços
Se não a tivesse capturado a tempo
Minhas pálpebras viram o caminho

Recolhi-a apalpando as ondulações
Rastros delicados, dunas
Na superfície do éter (galgáveis apenas
por camelos treinados)

Li-a, atando digitais ao ar
Aparei queda vindoura e urgente
Contra o decálogo que vige nestes casos
Labirínticos, em cujas curvas a detive.