O concurso literário deste mês da revista Piauí pedia que os participantes encaixassem uma frase do Lima Barreto, Mudemos o uniforme, e já!, em um texto de nossa lavra. Pena que o regulamento preveja que os textos enviados só possam ter até 3160 caracteres, tive que mandar uma versão editada que ficou com 3159 caracteres. A versão que coloco aqui é a integral.
In Praise of BrodieDe minha humilde posição de algoz do reino, lacaio reles desta
excelsa corte, vassalo e arauto do mais digno de solicitude, que com sua elevada bondade guia todos e cada um de seus
súditos na
direção da concórdia, Eu,
Puntiforme filho de
Puntiforme, algoz deste reino e cidadão cioso do bem estar dos que nele residem, venho por meio desta
despretensiosa ainda que indignada missiva, reportar a quem sobre isso competir deliberar, mirando sempre a mais alta e piedosa instância fatos que vêm de forma pertinaz
pertubando a paz e a ordem públicas que tanto almejamos alcançar e manter em nossa progressista corte.
É notória e bem
quista de certas instâncias de nossa administração o estabelecimento de certas inovadoras práticas comerciais em nossos territórios por alguns de nossos de a pouco célebres e nem sempre
ociosos concidadãos, indivíduos espirituosos sem dúvida que aproveitam uma
brechazinha qualquer em sua jornada para ludibriar até o mais atento dos sentinelas e vender produtos por eles cultivados e que antes eram destinados ao fornecimento para a mesa régia e suas dependências. Em testemunho
confidencial cujo conteúdo não temo desvelar nesta carta, graças à convicção de que tudo o que aqui relato é para o bem de nossa comunidade, Cuneiforme filho de Cuneiforme, 27, escriba, afirmou ter visto mais de uma vez de sua janela na torre da ala da biblioteca grande aglomeração destes elementos que ao se dedicarem a amealhar fortuna e prestígio próprios se furtam à obrigação para a qual foram concebidos,
negligenciando o abastecimento da corte em prol de
atividades escusas. O que mais impressionou a nosso diligente
conciencioso escriba foi o líder deste bando. Não sei se filho deste reino ou estrangeiro, este elemento a pior espécie vem a minar as bases nas quais se fundam a soberania deste território,
ameçando-nos e nos
inflingindo uma diferença que não podemos tolerar, pois ao fazê-lo colocamos em xeque toda a altivez e a tradição deste povo que delas é tão amigo. Não contemplado por Deus em sua criação este ser, que mal ouso chamar pessoa, não muda de forma.
Humildemente rogo e advogo buscando como sempre ir ao encontro dos interesses de nossa
Infalibilíssima Majestade os quais são por conseguinte os deste reino e de sua população. Mostra-se cada vez mais premente a tomada de medida drástica que
extirpe pela raiz um mal que, caso se alastre, pode acarretara extinção das tradições pelas quais se guia nosso povo. Insto portanto, as instância
administrativas competentes a coibirem a expansão de uma classe de sujeitos
antipatrióticos dedicados ao ócio e a si mesmos, cujo aberrante líder é afronta nossos costumes e visa aniquilar nosso modo de vida.
Zelando sempre por que reine a paz e a harmonia entre seus
súditos, Vossa Altíssima Majestade, O Rei, filho d’O Rei, determinamos que para a manutenção da ordem pública, bem como preservação da moral e dos bons costumes vigentes neste Reino e por motivo de descumprimento dos ditames régios no que tange a matéria
fisiólogica, moral e de interesses:
1. Mudemos o uniforme, e já! O submeteremos a tratamento custeado pelos próprios dividendos de sua
atividade ilícita, tendo por
objetivo integrá-lo a nossa sociedade de forma pacífica facultando-lhe a a ele vedada capacidade de
metamorfosear-se como lhe aprouver.
2. Debelemos qualquer movimento
pertubador da ordem em nosso território, evitando comoções intestinas desnecessárias
fortacelecendo a soberania e o reinado deste que é o mais pacífico dos povos.
3. Revoguemos todas as disposições em contrário.