aquele mendigo me disse que é,
e ele não mente,
a hera que se infiltra nas rachaduras do concreto
como se a fome disseminasse a fome
por trás das moedas esparsamente jogadas na caixa do instrumento
como se os acordes desse saxofone reverberassem
nas infiltrações da cidade e das pessoas
lágrimas feitas de notas musicais
estátuas que extravasam sangues pelos olhos
um apóstolo de pedra-sabão comovida
o desdém eqüestre de um marechal de mármore espada em riste
os berros de desbravadores comemorados em praças em honra a
o mendigo é uma planta que infecta
a calçada com os feixes de notas
que arremessa
braços vegetais abraçam a cidade em ruínas
aquele prédio chorando
aquele automóvel delira
assim que fome deformante daquele bebê ecoasse
nas vontades dos rostos dissonantes
a música dele perpassaria transpassaria pervadiria
onisciente sax onisciente céu observa
agora imaginem se na porta da loja
famosa
se postasse um mendigo assim
que derrubasse máscaras
e atraísse os pássaros
só com soprar num pedaço de metal
uma música o mendigo oferece
uma fome o mendigo suplica
Um ensaio – Elogio da Mão, Henri Focillon (Ed 34, 92 págs.). Um livro de
poesia – Sílex, Eliane Marques (Círculo de Poemas, 72 págs.). Uma conversa
– Ben M...

2 comentários:
Ninguém gosta de se expor. Ou seria.. de ser?
Oras, belíssimo poema.
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