sábado, 19 de junho de 2010

nem que calassem as pedras
e as caravelas ensurdecessem
à paisagem que você vê da soleira
de madeira gasta da sua porta
em parati faltariam palavras

o calçamento da rua sussurra
sob seus pés, encosta o ouvido no chão
atento pro coral de vozes das pedras

nem que calassem o vendedor
de doces e o piano da donzela
(n)o fim da rua fosse demolido
só passe em silêncio, a hora do por do sol
na baía guarda histórias
atrás da montanha

sim, a lâmpada a gás, inconfidente
o mascate enuncia um discurso
no púlpito do teu peito atônito

não esquece que de quarenta em quarenta minutos
é a vez do rio ser a prosódia da cidade
a torrente de gestos invade os habitantes
o contato frio das pedras encharcadas
recém úmidas da língua do rio

cultiva musgos entre os tijolinhos
da cidade que estreamos
porque a secura do concreto precisa de um rio
colonial e muito antigo, com vista pro mar

2 comentários:

Anônimo disse...

Sinais dos tempos...

"as pedras clamarão", diz a bíblia.

Ferdi disse...

Hmmm.. acho que esse é daqueles que fico assimilando por horas.