Ela crava seus olhos nos dele. Oferece a certeza de que permanecerão assim pelos próximos segundos ou décadas. Enlaça-o entre seus braços. O beijo pelo menos ainda tem gosto, cigarro e vinho, traz à mente dele um perfume antigo, inebriante como as ondas de hesitação, euforia e ânsia que ela lhe transmite agora via oral. Não estão preparados ainda para desviar o olhar. O olfato está ausente, ambos fumam, um por causa do outro, há tempo demais para se preocupar com cheiros. Existe certo equilíbrio plástico na cena. A porta aberta sugere algo. Ele busca soltar o cabelo dela enquanto tenta ler um sorriso perdido no canto da boca, relegado à obscuridade ao durar o beijo. Parecem brigar por almejarem a antropofagia, tamanha é a voracidade e a sisudez que empregam em se encarar e em se explorar com o que resta de mãos livres. Sôfregos suam. Ele acaricia os cabelos soltos, bem pouco mais grossos, que brotam da nuca em locais esparsos. Ela se desvencilha a contra-gosto. Sugere que bebam e senta-se à beira da cama impregnada de cheiros de uísque e tabaco. Cruza as pernas deixando a mostra o vermelho roído das unhas dos pés. Apóia o copo no colchão. Afetando irritação prende os cabelos. Ele dá um sorriso contra-feito que pensa explicar e desculpar tudo para sempre a que ela retribui com olhar sarcástico. Ele senta também na cama e com isso derruba no chão o copo que estava apoiado apenas. Ela ri, diz que só tem dois copos e é bem pouco cavalheiresco a mulher partilhar do do homem. Ainda falham em evitar o olhar do outro. Serve-se. Ao fundo, Sus ojos se cerraron.
Uma exposição – Thomas Farkas no IMS. Um disco – Lives Outgrown, Beth
Gibbons. Um livro de poemas – Blue Dream, Sabrinna Alento Mourão (Círculo
de Poemas, ...
2 comentários:
Bem bonitas descrições da cena.
"Cruza as pernas deixando a mostra o vermelho roído das unhas dos pés."
Sério, isso me incomodou.
Efemeridade de esmaltes irritates me, mas isso é detalhe pessoal de uma leitora, não uma crítica.
culpa tua que não pinta as unhas direito
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