segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Poema bórgico que deve sua eficácia à pontuação

Toca a campainha e sai correndo
Não quer vê-lo, chorá-lo ou rí-lo
Arrependida não olha atrás
Para não lembrar do erro crasso
A culpa é sua e quer dizê-lo afagando seu rosto
Sentindo na palma da mão as lágrimas quentes
Sulcarem-no
Não existe coragem de encará-lo esse momento
Ainda que devesse reconhecer
Que trocar acusações aos gritos por telefone
É pior

Quer que lhe acaricie o rosto e sinta a felicidade
Que não consegue traduzir, palpitar
Nas polpas de seus dedos
Almeja gritar
De alegria
De exultação pelo que seja,
De medo, angústia e paixão misturados
Mas não quer que ele parta
Quer a ouça, quer não
Quer sabê-lo ali para ela e seus gritos
E quer sabê-lo sabendo dela ali
Para seus desvarios e estertores fingidos

Corre porque teme qualquer reação
Mesmo a desejada
Fora uma tarde maravilhosa
E se ele achasse que foi só isso?
E se ele achasse que não valia a pena insistir em nada nunca?
Ledo engano, fora mais e ela sabia
Um sorriso e um gosto que ele deixara em sua boca lhe diziam
Que ele concordaria

Não como submissão,
Mas como constatação inevitável
Se discordasse, acabava ali tudo
Tanto o que viera buscar
Como o que viera trazer
Tinha esperanças, entenderia

Não obstante, corria ansiosa, temendo o mundo
Que só ele podia proporcionar

Um comentário:

Plas disse...

Genial.

Eu sei, comentário esdrúxulo, mas nunca sei o que escrever mesmo. /aluna de letras que quer virar crítica literária