segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A culpa (pt. II)

Lembra daquela primeira flor que você me deu?
Aquela ridícula?
Nunca disse isso
Seu esgar de desdém te entregou
Para de desviar o assunto. Quero dizer que há poesia não-verbal
Oh! Descobriu a roda
Há poesia não traduzível em palavras e eu e você sabemos que não precisa ser só como demonstração de amor
Tinha esquecido. É claro que você tem que jogar seus superiores conhecimentos de poesia sobre mim
Você me teve preocupada hoje, saiu a esmo. Ainda bem que eu adivinhei que você não ia longe. Por que fez isso?
Não me subestime eu iria longe se quisesse. E você está errada em acreditar que eu faço as coisas para te deixar preocupada
Não deturpe minhas palavras
Desde quando se importa?
Li poesias suas hoje de que gostei
Repito minha pergunta
Não seja infantil, repito a minha: Por que fez isso?
Olha só. Presta atenção no que eu vou dizer
Ahn
Lembra daquela cena daquele filme do Robert Rodríguez em que o atendente daquela lojinha pula em chamas de detrás do balcão e tenta alvejar o Clooney e o Tarantino?
Nem sei como somos poetas, nossas metáforas são péssimas. Aonde quer chegar?
Sem críticas. Não é bom momento para isso
Quick and to the pointless, por favor
Eu sempre vi nossa relação como eu sendo aquele cara pegando fogo e você a única piromaníaca apta a gostar do que sou
Quanto você já não deve ter bebido para estar pensando nisso?
A culpa é sua se o objeto em chamas não tem admiração pela pessoa que o acendeu
Isso é outra metáfora?
Não, é o que acontece conosco
Você quer dizer que eu gosto mais de você que você de mim e nossa relação se funda nisso?
Não
O que quer dizer então, porra
O fogo é minha vaidade, não consigo te admirar como poeta como você me admira. Mais ainda agora que eu me dei conta de que você escreve justo como eu queria escrever
Você é um convencido, então
Sempre falhei em retribuir o que você sempre me deu
O problema é seu se suas falhas de auto-estima te impedem de gostar de mim como mereço
Já estou mal o suficiente com isso
Aprenda a lidar conosco
Tudo sou eu mesmo, você me acostumar mal tem nenhuma influência?
Nunca fui tratada como queria e sempre relevei tudo. E isso em nome de quê?
Quando foi que te obriguei a alguma coisa?
Mudando o assunto de novo
Juramos sinceridade antes de tudo
Mais essa agora. Juramos
Por isso mesmo não posso prometer mudar, é possível que prometa tentar mudar
Para quê? Se no final eu acabo fazendo tudo pelos dois, pela poesia como você gostava de sussurrar ao meu ouvido
Você sabe que eu não me sinto à vontade com essa história de dualismo
Precisava mesmo fazer uma referência ininteligível a um poema meu? Desenvolva
Dualismo me diz que somos diferentes, você já está nos tratando como se fôssemos dois, isso não é bom
Bom saber, e por que não fez nada nunca para manter uma unidade?
Prometo tentar
Agora que tudo já ruiu por uma loucura sua? Você é pior quando tenta mentir para mim
Não estou mentindo, quero remediar algo que estraguei. Prometo tentar
Desnecessário. Depois daqui, já não há o que se possa fazer
E?
Eu me nego a continuar mantendo tudo sozinha. Como pelo visto você tampouco vai fazer nada, acho que ficamos por aqui
Quer dizer que a minha descoberta, elogiosa, de que você escreve melhor que eu vai acarretar um desfecho trágico
Houvesse pensado nisso antes, e o desfecho só é trágico para você
Me odeie então, recuso o desfecho
E vai fazer o quê?

3 comentários:

Luci disse...

ela faz o q????

Anônimo disse...

Linha 9, falta um "m" em "tem" (creio eu) e, linha 14, "para" tá com acento (sendo que antes apareceu sem).
A metáfora foi legal, santa Band.
Não entendi, no contexto, o que ele fala de dualismo.
Gostei e, óbvio, há de haver uma parte III. Quero só ver a criatividade do "convencido" (como é dito no texto...) aí.

Anônimo disse...

Em "tem" não, era em "bem", eu acho. Tirou o segundo "Para"?