sábado, 17 de outubro de 2009

Locus Amoenus

Sentados em um banco de praça desfiam confissões convencidos de que a sinceridade é o melhor de que dispõem. A sinceridade por palavras é melhor traduzida, quase desmentida, por sinceridade dos rostos. Mais de um afago verbal foi desmascarado por uma expressão. Os dois faziam isso, mas era mais frequente com ela isso de se trair. Somos melhor amigos é o tema e há pouco consenso, pois usam a palavra gostar em acepções diferentes. O tempo não passa enquanto vai escurecendo e há um sorriso (específico, não-corriqueiro) que paira ali. Não é presunçoso dizer que paira nos dois. Uma satisfação gerada por uma tensão que percorre os olhares. Tensão gerada  por escritos quase confessionais demais pousados entre os dedos. Desfiam histórias de sempre e de nunca que embebem o interlocutor, a ele principalmente. Ela notou que ele cortara o cabelo, ele notou que ela vestia pela primeira vez um shortinho. Conversam de poesia porque isso os juntara, conversam de todo o resto porque isso hoje os junta. Falam da efemeridade de esmaltes e de besouros.  Um momento diáfano que um dos dois ou os dois quer perpetuar e proteger dos postes que acendem. Tudo é puro por mais que descarreguem algo fortíssimo que os une. Tudo são clichês porque tudo é novo e inspirador para um e para outro.

2 comentários:

Anônimo disse...

"(...) proteger dos postes que acendem." Não sei se interpretei do modo que imaginou quando escreveu, mas gostei demais dessa maneira de dizer que o cair da noite iria acabar com a cena

Anônimo disse...

"Tudo é puro por mais que descarreguem algo fortíssimo que os une." Também gostei especialmente dessa frase.
"Tudo são clichês porque tudo é novo e inspirador para um e para outro." Em princípio, não entendi, achei confuso por parecer/ser contraditório. Depois, acho que captei...