quarta-feira, 3 de março de 2010

décimoquinto décimossétimo

por trás das pálpebras cerradas 
inflamaram-se chamas verdes 
Mikhail Bulgákov

ia te chamar de louco se não se achasse melhor que ele que estranho isso porque eu sonhei ou pensei que eu falaria isso pra alguém.
não sou melhor que ele se eu fosse ele não teria o que eu quero.
se ele for pior é porque ela não te mereceu mesmo.
não é por isso a sede tem meandros inexplorados e que ninguém que visitou descreve e alguém sempre sonha que vai dizer algo nunca se sabe qual é o lado certo do espelho se é o que o sonha ou o que sonhado retribui.
as pessoas têm preferências misteriosas também preferem névoa sempre.
prefiro a luz da lua projetando versos em um rosto.
mármore sangue prédios em ruínas tudo o que percorro são escombros.
prefiro o sol e o vento que cortam a respiração em dois sua voz petrificada em silêncios me perfurar.
impregnados por um cheiro transparente elevamos no ar o que trouxe as pessoas aqui.
a sede é a solução por não ser o alvo solução para problemas que não sendo nossos atingem pessoas que ignoramos que nos ignoram e são mais felizes por isso.
a cada respiração na noite hesito tropeço a cada presença que se afasta com passos silenciosos e sei o que há por trás da névoa cruzando invadindo este espaço.
mutilados obesos em passarelas só enxergo a ponta vermelha do cigarro aceso e já sei.
não são felizes não podemos ser felizes sem enxergar mais que a ponta única do cigarro a noite solitária fora tão promissora tão poucas horas antes.
nesse caso suas presenças seriam cortinas descontínuas a revelar uma intenção que ninguém concretizou.
nesse caso um taxi desgovernado atropelaria as pontas ambulantes não sabem o que é a sede não sabem que não está no jornal no horóscopo sequer nem num toque do cadáver fortuito de uma lembrança.
nesse caso os obesos sabendo que as ausências da sede.
períodos bem longos em que nem o labirinto de lençóis sujos assusta mais.
são o motivo de andar fumando numa cidade cujo ritmo da respiração a esta hora não é mais que um sussurro.
ficariam em casa à prova de desilusões os bueiros gritam escancaram o que é a quem para e olha.
concordo é bem provável que aquele cara cego sem pernas escorado na parede do prédio tocando sanfona saiba o que é a sede porque ele é imune.
mas não é imunização não é uma vacina também não é a doença é um carro com um altofalante encima  o pneu furou ele está parado no acostamento mas o autofalante continua incansável.
com pássaros chocando contra o parabrisa?
não esse é o ciúme.

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