headlights pointing at the dawn
Smashing Pumpkins
um adeus à casa vazia
ao rosto sem rugas, ao dinheiro
à casa cujas ruínas habito
carbonizadas em mosaico
de lembranças caleidoscópicas
um resto de sofá, colheres sujas
um sorriso de que talvez sinta falta
uma mão na minha seria bom
pois não decidi meu jeito novo
a arrumação dos móveis e a cor das cortinas
um passo indeciso
que não cabe em mim:
as pegadas e as digitais
da minha sombra
carrego como sísifo
nunca consegui descansar minhas sombras
assim que ela voltar
até a isto digo adeus
em murmúrios
sem afagos
um taxi perde o caminho
sou uma ponte entre dois vazios
não sei articular/
a boca se move não dubla,
só diz desencontros
adeus aos meus
ao que despencou do meu corpo
um adeus que perfura os tímpanos do ar
surdo e sonolento
vem a manhã com um hálito frio
com um cheiro de náusea
peço e despeço
o que me faz ir para manter.
uma mão ao longe
um aperto de mão
um abraço e três beijos na bochecha
contaminados por meu olhar cabisbaixo
porque olhar para trás e lembrar
tem sido andar vendado nestas calçadas
cobertas por uma constelação de cacos de vidro
uma mão acenando desvenda
o que move um coração está no horizonte
em câmera lenta percorre o corpo
[meu
seu
nosso céu] morto
que abandona aos poucos
um em um milhão de cadáveres volta
com a chance de fazer o que faltou
o braço repelido daquilo em que os dedos
quase encostaram.
àquilo que meus olhos não tocaram
a noite sobreveio
desaprendi a falar para não sentir
saudades
sou um verso escrito na areia
que a maré vem apagar
só uma palavra na multidão
de grãozinhos ásperos contra a multidão
de gotas lúcidas
só uma palavra para aqui a partir de agora
só uma palavra para o que a partir de agora
me desconhecerá: adeus.
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
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