o corpo não me abriga mais
ter o céu como cobertor ao invés do chão
e a lua como lua, não seus olhos
[gatos
gatos em todas as janelas vendo passar
a multidão que me arrasta como um rio
os dedos não alcançam só levam o corpo
na correnteza de versos em cada boca que
como um poste meio apagado cheirando a querosene
não fazer menção
de ouvir ladainha nas ruas de pedra
apodreço debaixo de um sol na frente de tudo
igreja matriz apóstolos cegos carrinho de pipoca
um pó de inconfidência atravessa o paço do governo
filtrado amarelo pela luz que despenca
das montanhas de casinhas brancas penduradas nas montanhas
um verso ladeira abaixo
esquartejado em público acéfalo
um ponto final nesses morros coloniais
a vírgula é o rio
o mar não há mais/ ficou o chão a poeira a maré
seu sorriso subterrâneo sob minha pele a sete palmos
sou eu debaixo da capa de poeta a pena em ebulição
a árvore escandalosa raiz
partindo a cavalo o fruto leva e traz
calabouço de madeira claustrofóbica
baú com os escritos tomba da carroça
me atiro e sou um desfiladeiro
urubus a postos/minha queda não deixa rastros.
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
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