Meu peito nasceu nublado
num jardim de navalhas
o sol enferrujado se esconde
olhos de estátua grega
gestos de arame farpado me arrastando por um labirinto de veias e artérias sem saída
com este fio cor-de-carne que alguém amarrou na entrada
porque não quer se perder em/de mim
minha metade meio-vazia meio-cheia
cheirando a um ranço de luar que nem
andar por aí e tentar arranjar um emprego conseguiu extinguir
meu tórax é um pomar de lâminas
regado de fluoxetinas
ali o mármore de um braço
metal retorcido de um queixo esperando algo vir do horizonte
meu nariz de barro caiu de podre
espatifado no chão a um canto perto da fonte
eros barbudo com ninfas
dança circular/ ali o riacho/ aqui as raízes dos meus dedos
contaminando
dança circular pisoteando a grama recém cortada
não dá pra dormir com o barulho de pés encima do meu teto
fazem tudo em qualquer lugar
o espelho não me reconheceu
vi alguém parecido comigo sussurar algo ao seu ouvido
não podia ser eu, você sorriu.
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
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