quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

olhai como parece uma asa que viesse de longe
Jorge de Lima

um homem bate à porta quer voltar
quer buscar o gato que esqueceu aqui 
quem abre esqueceu o olhar a um canto
ela sorri de órbitas vazias
sabe que há noite ao fundo pelo
calor das fogueiras
o chapéu e o cheiro de verniz na madeira
são uma infância súbita sob as asas
de um retorno de um toque imprevisto 
na escuridão, a prataria ronrona
devolve à sala a revoada de fantasmas
que entra com o homem
tira o chapéu aceita o chá outra vez
ela cruza as pernas e demonstra interesse
a rua se calou
só a lua tem algo a dizer
as multidões nas calçadas vazias
mal-iluminadas andam atravessam
o homem faz menção de sair
esclarecendo por que voltou
por que deve ir embora o asfalto esfriou
as cercas ao redor desenham um labirinto
e sem poder contemplar o teto
as infiltrações os abajures desmemoriados
a ela só cabe deitar
o branco dos lençóis é igual ao dos olhos
que perdeu e ao homem
a ela só cabe sair
as ruas não são mais habitadas que
os sonhos que tem sob a pele

perder uma memória que encontrou num baú

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