para Júlia V. e Hannah Arendt
silêncio bolha
silêncio contato
eu sozinho sou dois
eu sem mim nem isso nem cercas farpadas
isolar dos escombros do meu olhar
cabisbaixo num espelho
eu comigo
conspiro contra minhas máscaras
eu sem mim na multidão sou um
eu na minha companhia
não preciso olhar nos olhos do que não quero
mas devo ver o que me faz fugir
eu entre pessoas atravesso a rua na corda bamba
não é fácil
só segurar a mão de quem não conheço
eu me reflito
à minha imagem e semelhança
não projeto (não mais)
linhas em rostos que não o meu
compulsões em gestos alheios
a calçada em convulsão
[vendendo berrando eletrocutando faíscas de ferragens retorcidas manchadas de sangue]
meus dentes caem por descuido
desaprender a sorrir
rir por dentro basta
uma em mil gotas de colírio
nos olhos cegos da cidade
um em mil casos de delírio
monólogo coletivo em um anfiteatro vazio
um em mil casos de delírio
monólogo coletivo em um anfiteatro vazio
dead end roads placas ordenam não vá fora de si não derrape
chuva num para-brisas
repelindo
relendo a caligrafia torta
da água em meus óculos
Um comentário:
Acho que foi um dos poemas mais claros para mim aqui. Muito bom.
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