quinta-feira, 22 de abril de 2010

diástole do pulso em suspenso
esse pulso hesitante: soluço espaçado
a diástole começada porque
se o resto é tragédia e da grega
o poema é distensão
é meu rosto fazer as pazes com as ruínas da cidade
e os ponteiros girar ao contrário

a diástole pergunta
em ritmo binário
uma escolha e uma conseqüência, por favor
por ser sem medo passar
e às estrelas reagir
sim/não bem-me-quer/mal-me-quer
o verso não comporta a palavra dialética
é uma via de mão única
entre voz e ouvidos

diástole capenga
daquelas de dor na boca do estômago
tique taque tique
as últimas palavras
as considerações finais
só puderam ser, desculpa, essas
tomar um ônibus de madrugada
saltar bem longe daqui desta lua com seu sorriso
é o jeito de escapar
dessa diástole expansiva engolir
engolir algo que não fez

as contrações de um parto
do parto do que virei
de um jeito que não escolhi
num trem noturno de que me lembro
vagamente
isto é diástole
é meu pulso sendo lido
por pessoas que vim ser
e que fui sendo é antes de mais nada
um silêncio no canto da boca
espremido entre os dentes

ameaça pois, meus segundos
estão contados

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