sexta-feira, 9 de abril de 2010

O quarto é cheio de barulhos
que não sou eu
cores fora da palheta
suspiros que são um soluço de silêncio
movimentos no canto do olho

no meio dos cheiros de sempre
no meio dos que a palavra inventou
surge um imprevisto

existe o ruído do lápis arranhar o papel
o farfalhar das cortinas
                                     sim
isso não impede
o vulto atrás da porta
a lua na janela o som dos carros na rua em frente
o cinzeiro
uma camisa no cabide de
                                        também murmurar

esta frase é a obra completa
a única que entendi o quarto dizer
as outras são segredo
nas dobradiças rangerem
nas rugas no lençol
no fundo das gavetas
por desvendar

um outro segredo destes
é este olhar amarelo
do gato que me ignora
de quem quero entender as pausas
o parar e captar as silhuetas ao redor
escrivaninha mãos e teto
ao invés do miado de costume

do andar que aprendeu com outros
extrair o que só ele sabe

escondido
no interstício
feriado dos sentidos

entre o que o poeta combina
e o que o poema comporta
ser o que os olhos não enxergam
o que transborda o verso.

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