O quarto é cheio de barulhos
que não sou eu
cores fora da palheta
suspiros que são um soluço de silêncio
movimentos no canto do olho
no meio dos cheiros de sempre
no meio dos que a palavra inventou
surge um imprevisto
existe o ruído do lápis arranhar o papel
o farfalhar das cortinas
sim
isso não impede
o vulto atrás da porta
a lua na janela o som dos carros na rua em frente
o cinzeiro
uma camisa no cabide de
também murmurar
esta frase é a obra completa
a única que entendi o quarto dizer
as outras são segredo
nas dobradiças rangerem
nas rugas no lençol
no fundo das gavetas
por desvendar
um outro segredo destes
é este olhar amarelo
do gato que me ignora
de quem quero entender as pausas
o parar e captar as silhuetas ao redor
escrivaninha mãos e teto
ao invés do miado de costume
do andar que aprendeu com outros
extrair o que só ele sabe
escondido
no interstício
feriado dos sentidos
entre o que o poeta combina
e o que o poema comporta
ser o que os olhos não enxergam
o que transborda o verso.
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
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