sábado, 17 de abril de 2010

para Martina Gedeck

uma silhueta de atriz dos anos trinta
uma boca francesa e um nariz grego
eu te chamar de electra clitemnestra ou
rita hayworth
é indiferente
porque nem a vontade de um deus numa
tragédia dessas de você no outro lado 
da tv de madrugada
mudaria o sofá agarrar meu pé
não deixar mover nem piscar
só pra te ver de longe, quase à espreita
sorrindo pra mim por trás de uma obsessão
qualquer dessas de gente de cinema
mesmo que nenhum deles tenha esses olhos
que são um solo de sax depois da meia-noite
e esse jeito que garante que antes de ser
cozinheira você era bailarina
num bolshoi ainda soviético em que 
o realismo é a farsa do sonho
em que suas mãos esculpem o ar
separadas das minhas por um vidro.

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