bocejo tosse
suor frio febre alta
pressão baixa sussurros à sombra
da porta entre aberta
dor nas dobradiças, na garganta mudez
a mudez de um mímico que só ouve
aquilo que imitar
nas vísceras à mostra, não pulso
dispulso exangüe repulsa
compulsória em se abrir
harakiri dissonante
e se você recusar
ai de você se você recusar
já já te escancaram
você não está bem, poema meu
estilhaços do seu silêncio
dilacerarem meu ar
cínico de departamento de diagnóstico
reconstruir sua pele já não dá mais
você não é da poltrona
do cachimbo e do uísque
dos louros da vitória
você anda torto e manca e segura a respiração
quando a mulher passa
e não sabe bem aonde ir
nem aos prêmios nem ao esgoto,
poeminha de merda
não saber bem aonde ir
sem sistema imunológico
e estirado no meio da estrada
contemplar a noite
enquanto os outros tropeçam no seu corpo inerte
, moribundo estirado a um canto da estrada
moscas no poema
detritos de fonemas
escombros de de letras monumentais
gatos proliferando
gente sem dente
o poema sem vento sem velas náufrago
está nada bem
hesita cegou e espirra
na coceira de ser quem não é
poema na pele errada
disfarçado de poema alheio
de voz monocórdia emprestada
de ventríloquo do avesso
sorriso pardo
dedos trêmulos
na prestidigitação de si mesmo
na constelação de pontos finais
agarra a tábua se quiser,
meu querido,
mas dessa você não passa
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
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