terça-feira, 25 de maio de 2010

pra Ferdinands loucamente

a carta nunca chegou porque
as palavras não precisam de envelopes
de pernas dos outros de fios telegráficos
precisam de sussurros gemendo na madrugada
chamados à ordem berros alaridos
aladas precisam de um céu
que coincide com o céu da sua boca

na minha constelação de segredos
não escritos

que bom que não há um manual
que você me ensina a ser feliz de um jeito
que ninguém ainda inventou
adivinho o conteúdo da carta que não chega
os motivos, caminhos, devaneios
leio tudo em seus olhos
e continuo no seu sorriso
as vírgulas devoro
as reticências devoro
os parágrafos, os travessões

e guardo o seu perfume e o seu gosto
que não cabem em nenhum papel

que bom que a carta não chegou
e te amar é uma frase sem ponto final

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