dá pra um pátio espinha dorsal do prédio
oco com varais e um eco
a luz na clarabóia promete pássaros
e sorriso da mulher que amo
a minha janela não dá pro mar
vidro e maresia não combinam
porque bom mesmo é ter nada que separe
dos espaços abertos
deitar na areia e contar as nuvens
não posso, tenho a minha janela
a minha janela não dá pro céu
mas também não é bueiro
não dá pro esgoto
não é uma ilha e nem um espelho
não vejo fábricas da minha janela
só a madeira um pouco gasta da moldura
dobradiças emperradas
meus olhos não dobram a esquina
a minha janela tampa a vista de uma língua
escondida quem usa
sabe de minuto a minuto
uma farsa entre enxergar e dizer
a minha janela não desagua em mim
desagua em palavras súbitas
se enrola num discurso meio sem-fim
meio-(sem-)fio
como legendando a minha janela
dar não no resto, mas em você
que é poema que leio em braille
outdoor que saboreio
a janela é o eixão à minha frente
movimento a despeito de mim
o asfalto lá embaixo
e meu pronunciamento são tudo
que enxergo daqui
3 comentários:
A sua janela está aberta?
/youwerethebesthingthateverhappenedtome
discurso meio sem-fim meio-(sem-)fio
discurso longo como um meio-fio que não acaba e sempre volta a ser o mesmo em determinado estagio.
Aqui, todas as janelas são minhas janelas, todas dão pra um lugar que não tem nada de ninguém - muro e gatos, verde e pedra cinza.
É sinceramente muito bonito este aqui.
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