meu corpo é uma entrevista com os objetos que desejo
meus gestos e minha voz
fluem entre dois
os que sou e os que fomos
outonos esquecidos de cigarras
serrando o ar
céu enferrujado
as folhas que caem de mim e
da minha respiração lentas têm
um cheiro das suas roupas
sonho que você abre a porta e me olha enquanto durmo
ou meio acordado ouço um barulho
intermitente de você entre as minhas colchas
custa acordar porque quero
o corpo dói porque quero
ser outro
contra o que estou obrigado a fazer
ter outros olhos no espelho
outras mãos entre as suas
que também não são mais as mesmas
são mais jovens mais velhas
essencialmente enrugadas pelo que viveram
nossas raízes nas artérias que nos delineiam
unem porque nutrir não nutrem
são só o rastro na areia do passo do que passou
se terminar este livro
a última coisa nas últimas prateleiras
último dia de um começo de sonho mal-acabado
é ponto final do que vim viver agora.
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
2 comentários:
Eles tem ficado maiores, eles tem ficado melhores e acima de tudo, eles tem ficado mais na minha pele. Eu não sei, mas você tá caminhando para aquele tipo de caminho do qual as pessoas saberão que você percorreu.
Então, eu disse que por menos suscitante disso que esse texto pode ser, lendo de novo senti a mesma coisa: inveja.
Antes do pó houve algo.
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