terça-feira, 6 de abril de 2010

meu corpo é uma entrevista com os objetos que desejo
meus gestos e minha voz
fluem entre dois
os que sou e os que fomos

outonos esquecidos de cigarras
serrando o ar

céu enferrujado
as folhas que caem de mim e
da minha respiração lentas têm
um cheiro das suas roupas

sonho que você abre a porta e me olha enquanto durmo
ou meio acordado ouço um barulho
intermitente de você entre as minhas colchas

custa acordar porque quero
o corpo dói porque quero
ser outro
contra o que estou obrigado a fazer

ter outros olhos no espelho
outras mãos entre as suas
que também não são mais as mesmas
são mais jovens mais velhas
essencialmente enrugadas pelo que viveram

nossas raízes nas artérias que nos delineiam
unem porque nutrir não nutrem
são só o rastro na areia do passo do que passou

se terminar este livro
a última coisa nas últimas prateleiras
último dia de um começo de sonho mal-acabado
é ponto final do que vim viver agora.

2 comentários:

Katrina disse...

Eles tem ficado maiores, eles tem ficado melhores e acima de tudo, eles tem ficado mais na minha pele. Eu não sei, mas você tá caminhando para aquele tipo de caminho do qual as pessoas saberão que você percorreu.

Ferdi disse...

Então, eu disse que por menos suscitante disso que esse texto pode ser, lendo de novo senti a mesma coisa: inveja.
Antes do pó houve algo.