terça-feira, 24 de novembro de 2009

Tu sais, le monde est bien plus grand que ma poche

Todos os rostos eram repulsivos
Franz Kafka


O meu mais porque respirarei
Esta atmosfera branca
De teto branco alto insensível mas pulsante
Como o deserto que esconde algo dentro
E todo este ar que me empurram é
conseqüência do que andei negando
Em cada esquina que preguei
Que é o rascunho da imagem que tinham
De mim até então

Ouço passos aqui e ali que não interessam
na sombra não interessam

Deitado espreitando já sei que não vem
A uma estação longe a que se entortaram
todos os trilhos que incomunicáveis
lágrimas de aço derramam sobre o rosto
Inerte semi-ignorante que reinvindico
Já sei que não vem e já o sabia
Quando me disseram que vinha e que eu
Podia esperar por aqui mesmo
Tomar uma cadeira e pedir um café

Ouço passos aqui e ali que persigo
Olhando nos olhos mas persigo

Os vultos me dizem nada batem em meu ombro
Mas sei que não são o que espero
Chegam a gritar para chamar atenção
É mais fácil ignorar finjo limpar os óculos
Suspiram locomotivas como notas musicais
Expelidas de si piano-de-cauda
Atrozes fora de ordem que me servem
Certa melodia que identifico aos poucos e de longe
Mas que também ignoro

Ouço passos aqui ali que enfrento
Com os quais sem saber quando e onde duelo

Todos os rostos foram repulsivos até o momento
Em que entro e me deparo com um
único que antes de repulsa me dá
A sensação de espelho ao contrário
De que não sou imagem mas sim
Contra-imagem não complementar
Compatível mas reflexo dissonante que discorda
Do que traduz e rebate esta alta atmosfera a que nos obrigam
A mim mais porque respirarei

Passos ecoam à minha presença
Bastante indiferentes, é verdade

Desejo todos os rostos que passam rápido
nestas janelinhas em princípio no papel pelo menos
se não puder ser presencialmente para conversar
Com suas vicissitudes e verrugas e perfeições
Esparsas às quais eu serviria
Um café
Mas não não as tenho aqui nem no papel
Distantes saíram correndo e bufando da proposta
Que lhes faço e que me fizeram um dia

Pessoas ecoam ao meu redor
Que não atinjo e que atiram em mim

Farpas e arranhões e sorrisos subcutâneos
Que nunca esperava e que agora afloram

Um comentário:

Katrina disse...

Imaginei a cena toda dentro de uma estação de trem.
As pessoas ecoam, o pior é te dar razão nisso.