Todos os rostos eram repulsivos
Franz Kafka
O meu mais porque respirarei
Esta atmosfera branca
De teto branco alto insensível mas pulsante
Como o deserto que esconde algo dentro
E todo este ar que me empurram é
conseqüência do que andei negando
Em cada esquina que preguei
Que é o rascunho da imagem que tinham
De mim até então
Ouço passos aqui e ali que não interessam
na sombra não interessam
Deitado espreitando já sei que não vem
A uma estação longe a que se entortaram
todos os trilhos que incomunicáveis
lágrimas de aço derramam sobre o rosto
Inerte semi-ignorante que reinvindico
Já sei que não vem e já o sabia
Quando me disseram que vinha e que eu
Podia esperar por aqui mesmo
Tomar uma cadeira e pedir um café
Ouço passos aqui e ali que persigo
Olhando nos olhos mas persigo
Os vultos me dizem nada batem em meu ombro
Mas sei que não são o que espero
Chegam a gritar para chamar atenção
É mais fácil ignorar finjo limpar os óculos
Suspiram locomotivas como notas musicais
Expelidas de si piano-de-cauda
Atrozes fora de ordem que me servem
Certa melodia que identifico aos poucos e de longe
Mas que também ignoro
Ouço passos aqui ali que enfrento
Com os quais sem saber quando e onde duelo
Todos os rostos foram repulsivos até o momento
Em que entro e me deparo com um
único que antes de repulsa me dá
A sensação de espelho ao contrário
De que não sou imagem mas sim
Contra-imagem não complementar
Compatível mas reflexo dissonante que discorda
Do que traduz e rebate esta alta atmosfera a que nos obrigam
A mim mais porque respirarei
Passos ecoam à minha presença
Bastante indiferentes, é verdade
Desejo todos os rostos que passam rápido
nestas janelinhas em princípio no papel pelo menos
se não puder ser presencialmente para conversar
nestas janelinhas em princípio no papel pelo menos
se não puder ser presencialmente para conversar
Com suas vicissitudes e verrugas e perfeições
Esparsas às quais eu serviria
Um café
Mas não não as tenho aqui nem no papel
Distantes saíram correndo e bufando da proposta
Que lhes faço e que me fizeram um dia
Pessoas ecoam ao meu redor
Que não atinjo e que atiram em mim
Farpas e arranhões e sorrisos subcutâneos
Que nunca esperava e que agora afloram
Um comentário:
Imaginei a cena toda dentro de uma estação de trem.
As pessoas ecoam, o pior é te dar razão nisso.
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