aquele lugar era meu refúgio
árvores e cigarras e as coisas eram verdes
e puras
o passado - talvez porque idílico - é sempre melhor
e banquinhos e bonbons já não há
só ruínas de mim pedaços tortos jogados pelos cantos
eu fumava bem menos e tomava sorvete
porque sim
uma ou outra tarde sem bigode que
ainda tinha caminhos a ser percorridos
e poemas a ser escritos na pele vertiginosa
de acontecimentos em profusão
tudo foi fato e tudo foi novo e tudo foi puro antes da ferrugem
cobrir com poeira fina mas impregnada
o que hoje é um ferrovelho
parquedediversões de umas lembranças
curiosas
sem ninguém pra espanar
lembranças com órbitas vazias abrigo de vermes
que singram a carne não para corrompê-la
mas para descobrir o que houve
e de alguma forma preservar não sei pra quê
destroços de civilizações antigas que cultivaram
como tabuletas astecas brotando do chão
é isso que esses vermes procuram mas falharão em encontrar
poesia é estes vermes que não se sabe se mais ou
menos moribundos do que o que escavam
do que gostei está estirado
jaz em algum lugar esperando enterro digno
sobrou a estátua sem braços morta no meio de um jardim
Uma exposição – Thomas Farkas no IMS. Um disco – Lives Outgrown, Beth
Gibbons. Um livro de poemas – Blue Dream, Sabrinna Alento Mourão (Círculo
de Poemas, ...
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