uma garota numa das salas/me instigou mas era miragem trêmula
eu no corredor, absorto
mexe na bolsa à cata de objetos que não a definem
leio octavio paz
de onde estou só vejo um resto de pernas/ela já veio e sei que é bonita
ou não me vê ou finge bem, seus olhos me driblam
tem esse ar de quem quando espera espera andando de um lado a outro
tenho escrito com o sono embalado pelo vai e vem das pernas que não encostam no chão
arruma o cabelo algumas vezes/troca de posição na cadeira
agora vejo melhor seu rosto que é uma colagem das minhas palavras
e vice-versa
em algum lugar alguém liga uma música que dá urgência a estas palavras ao imobilizar as ações
a porta é a moldura de seu olhar quando encosta no meu
quando sai sua presença tropeça no mundo que não é mais confinamento
se afasta sem saber
os seus passos são a medida do que o papel recusou.
ensaio um discurso para quando ela sair
planejo um concurso para a pressa dela disfarçada de ansiedade se confundir com minha preguiça
os sapatos não fazem nenhum barulho quando pegam a avenida do corredor
ou não percebi ou fingi que não percebi
e foi miragem mesmo escorrendo pelo ralo do dia
fica o poema
fica o retrato das pernas indecisas oscilando
ficam as pegadas dos olhos que trombaram em mim
e os passos tendendo a infinito
que já é um modo, obviamente imperfeito, de tê-la havido.
Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
Nenhum comentário:
Postar um comentário