Para a Ju
Nunca achei escrever lá muito fácil e não explico por que o faço usando a velha desculpa da necessidade que vem de dentro. As pessoas se entretêm dentre outras coisas em alinhar motivos para escrever quase como se fossem desculpas. A mesma coisa na vida, as pessoas têm que ter uma razãozinha para fazer as coisas. Nada é justificado por si só, em tudo há um plano ancestral concebido para não fazer a pessoa ficar mal perante as outras, mesmo que não as conheça. Eu escrevo por um motivo pífio, quase dá vergonha de dizer, mas é o único que explica o que estou fazendo. Não sei lidar com atos, as palavras são meu disfarce, meu jeito de acreditar que consigo mudar algo. O mesmo na vida, não sei lidar com atos, por isso me importa tão pouco (tem importado cada vez mais) o que os outros têm a dizer. O que faço é por si só decadente, então sair de um carro para vomitar e arremessar uma garrafa de vinho com muitos conhecidos, amigos e amigos em potencial assistindo é o ápice de nada. Nem da mediocridade. Disseram que houve estilo, e dessa afirmação eu gostei, um bonvivant oitocentista não faria melhor, fui um perfeito dândi. Foi cinematográfico, diria, sair às pressas do carro se escorar na primeira palmeira ainda com uma garrafa de seiláoquê na mão, vomitar algo que não me lembro de ter comido, arremessar a garrafa longe e tentar achar um lugar para mijar, e, não encontrando, fazer ali mesmo. Em retrospectiva me lembro daquele filme cujo nome, como de costume, me escapa. No trailer há um tigre e Mike Tyson no quarto de hotel de três homens em Las Vegas. Um deles pergunta am I missing a tooth. As coisas se são para ser decadentes, tais como escrever ou vomitar em público, que sejam feitas deste jeito. Dignas de aparecer em um blockbuster da vida. Senão não vale a pena.
Tem que, sendo já decadente, ser verborrágico para aparecer e ser palatável à platéia qualquer.
2 comentários:
Basicamente. Eu só escrevo para tentar tirar de mim, mas nunca dá.
Decadentes são aqueles que nunca vomitaram. Ou melhor, não o são porque nunca estiveram em posição de decair.
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