Uma exposição – Mira Schendel no Tomie Ohtake. Um livro de poesia –
Acrobata, Alice Sant’Anna (Companhia das Letras, 82 págs.). Um depoimento –
Ed Motta no...
sábado, 23 de janeiro de 2010
Passou.
A ausência era uma presença que incomodava, Julieta partira e ele não conseguia mais ferir o papel sem lembrar cada vez que seus dedos retiveram aquelas mãos e isso imobilizava. Um acesso de fúria destruiu a máquina de escrever e queimou todas as folhas, à loucura da convivência que ele recusou seguiu-se a loucura dela ali intocável em poemas, acessível em lembranças apenas. Ele decidira e Julieta aceitara achando que era melhor mesmo ele ser impassível neste ponto, ninguém desconfiava de que seria a poesia dela a que seguiria menos transtornada nisso tudo. E cada verso tinha o rosto dela sorrindo sarcástico sabendo. Não havia lágrima, só vinho e deitar no colchão olhando o teto, as moscas no teto e como as infiltrações no teto tinham a forma de um sorriso específico. Ele culpava o barulho do ventilador por não conseguir escrever, por ela estar livre e ele preso a algo intocável que não pode recuperar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário