sábado, 23 de janeiro de 2010

Passou.

A ausência era uma presença que incomodava, Julieta partira e ele não conseguia mais ferir o papel sem lembrar cada vez que seus dedos retiveram aquelas mãos e isso imobilizava. Um acesso de fúria destruiu a máquina de escrever e queimou todas as folhas, à loucura da convivência que ele recusou seguiu-se a loucura dela ali intocável em poemas, acessível em lembranças apenas. Ele decidira e Julieta aceitara achando que era melhor mesmo ele ser impassível neste ponto, ninguém desconfiava de que seria a poesia dela a que seguiria menos transtornada nisso tudo. E cada verso tinha o rosto dela sorrindo sarcástico sabendo. Não havia lágrima, só vinho e deitar no colchão olhando o teto, as moscas no teto e como as infiltrações no teto tinham a forma de um sorriso específico. Ele culpava o barulho do ventilador por não conseguir escrever, por ela estar livre e ele preso a algo intocável que não pode recuperar.

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